Advocacia predatória não é o que incomoda o sistema. É o que o destrói por dentro.
Artigos junho 04, 2025Muito se fala em “advocacia predatória” hoje em dia. Mas pouco se aprofunda.
Advocacia predatória não é o excesso de recursos, nem o habeas corpus impetrado com ousadia, nem o advogado que bate de frente com o Judiciário.
Isso tudo pode incomodar, sim. Mas é parte da luta por direitos num sistema que, muitas vezes, se fecha para ouvir.
O que se chama de advocacia predatória, em sua essência, é uma distorção perversa da atividade jurídica. É a atuação baseada em:
- Ações padronizadas em massa, sem individualização dos fatos ou das partes;
- Processos propositadamente sem mérito jurídico, ajuizados apenas para pressionar acordos;
- Uso sistemático do Judiciário como indústria de lucro, transformando pessoas em números e o direito em mercadoria;
- Fraudes e má-fé, em que o cliente muitas vezes nem sabe que seu nome está vinculado a um processo.
É um modelo empresarial que instrumentaliza a Justiça como linha de produção. É produtivismo jurídico descolado da ética.
Mas precisamos fazer uma advertência:
⚠️ Há uma linha tênue entre o combate à advocacia predatória e o silenciamento da advocacia combativa.
Tem quem se esconda atrás do termo “predatória” para deslegitimar o advogado que questiona o sistema, que denuncia arbitrariedades, que entra com habeas corpus desconcertantes, que recorre contra decisões injustas.
Esses não são predatórios. São necessários.
A verdadeira advocacia predatória não desafia o sistema — ela se aproveita dele.
Ela não busca justiça — ela busca repetição e lucro.
Ela não confronta — ela consome.
⚖️ E o problema maior: quando a advocacia vira só repetição, o Judiciário responde com a mesma moeda — vira só máquina.
O Direito perde humanidade.
O advogado vira despachante.
O cliente, um número.
Por isso, é preciso ética e coragem para diferenciar o advogado que atua com paixão e estratégia daquele que explora o sistema como negócio impessoal.
E também é preciso vigilância, para que o discurso contra a advocacia predatória não se torne uma mordaça disfarçada.