Iniciar a carreira na advocacia é, para muitos, uma travessia marcada por insegurança e dúvidas. A faculdade de Direito entrega a teoria, mas a realidade forense exige algo a mais: segurança, clareza, postura e, sobretudo, autoridade profissional. Esse processo, no entanto, não se constrói do dia para a noite. É preciso método, dedicação e, acima de tudo, coragem para se expor.
O primeiro ponto é a comunicação. Saber a lei é uma obrigação, mas saber comunicá-la é o que diferencia um advogado respeitado de um advogado esquecido. A audiência não é um palco para recitar artigos de lei de forma mecânica, mas sim um espaço de persuasão. Uma sustentação oral bem feita, uma redação jurídica clara ou até mesmo uma reunião conduzida com firmeza podem transformar a percepção que colegas, magistrados e clientes têm de você. Um jovem advogado que se comunica com clareza transmite a impressão de maturidade profissional, ainda que esteja nos primeiros anos de carreira.
Outro aspecto essencial é dominar os procedimentos práticos. A insegurança de muitos recém-formados não vem da falta de conhecimento jurídico, mas da falta de familiaridade com o trâmite processual. Saber como protocolar uma petição, quais são os prazos mais sensíveis, como funciona o sistema eletrônico do Tribunal: tudo isso parece detalhe, mas na advocacia o detalhe pode custar um processo, e, pior, a confiança do cliente. Preparar-se tecnicamente é, portanto, um ato de responsabilidade e também de autoconfiança. Quem sabe o caminho não se perde no trajeto.
A construção da marca pessoal também não pode ser negligenciada. No mundo atual, a autoridade se constrói não apenas no tribunal, mas também no espaço digital. Um advogado que escreve artigos, produz vídeos ou comenta casos jurídicos relevantes demonstra não só conhecimento, mas disposição em partilhar esse conhecimento. Isso, aos olhos do mercado, significa autoridade. É claro que a exposição traz receios: o medo de críticas, a sensação de que ainda não se sabe o suficiente. Mas justamente esse movimento de se colocar no debate é o que acelera o amadurecimento profissional.
Relacionamentos também são um pilar inegociável. A advocacia é feita de pessoas, e a forma como você se relaciona com colegas, magistrados, servidores e clientes pode abrir ou fechar portas. A cordialidade, o respeito e a ética são lembrados tanto quanto a habilidade técnica. Muitas vezes, o respeito de um juiz ou a parceria de um colega de profissão se conquistam não apenas pela qualidade da peça processual, mas pela postura diante das situações mais tensas. É nesses momentos que se revela quem realmente tem autoridade.
Por fim, é preciso compreender que o tempo é aliado, e não inimigo. Autoridade não é algo que se decreta, mas algo que se conquista, dia após dia, audiência após audiência, petição após petição. A cada processo, a cada cliente atendido, o jovem advogado se torna menos inexperiente e mais sólido. A confiança nasce do enfrentamento das dificuldades, e não da ausência delas.
O início da carreira é turbulento, é verdade. Mas é justamente nesse momento que se formam os alicerces da confiança e da autoridade que acompanharão o advogado por toda a vida profissional. Cabe a cada um decidir se esse tempo será marcado pelo medo ou pela coragem de aprender e se posicionar.
No fundo, a advocacia é um ato de fé: fé no estudo, fé no trabalho e fé no próprio caminho. E quem planta essa confiança desde cedo colhe, com o tempo, não apenas reconhecimento, mas também a realização de exercer uma profissão que exige, acima de tudo, coragem e convicção.
Errar faz parte do processo de aprendizado, mas alguns erros podem ser evitados com planejamento e conhecimento. Aqui estão os mais comuns entre advogados iniciantes:
1. Subestimar a importância do marketing jurídico
O direito é uma profissão de reputação. Mas reputação não se constrói sozinha.
Muitos jovens advogados ainda acreditam que basta entregar cartões de visita ou esperar indicações para conquistar clientes. Isso até funciona em alguns casos, mas o alcance é extremamente limitado.
Hoje, quem não aparece, não existe. As redes sociais são a vitrine da advocacia contemporânea. Mostrar seu conhecimento em posts, artigos, vídeos e palestras não é apenas "propaganda", mas uma forma de gerar autoridade e educar potenciais clientes.
Exemplo: um advogado que publica conteúdos explicando de forma simples direitos trabalhistas ou penais consegue ser lembrado quando alguém da sua rede enfrenta exatamente aquele problema.
2. Não gerir bem o tempo
Na advocacia, prazos não são apenas burocracia: são a linha entre o sucesso e a tragédia processual.
Muitos iniciantes pecam por não terem método. Vão acumulando compromissos, esquecendo audiências, misturando atividades pessoais e profissionais. Resultado: caos, ansiedade e risco de falhas graves.
Ferramentas simples podem mudar isso: calendários digitais (Google Agenda, Outlook), softwares jurídicos de gestão de prazos, ou até mesmo planners físicos. O segredo não é só anotar, mas ter disciplina para seguir sua organização.
Exemplo: um advogado que centraliza prazos num sistema e organiza sua semana evita surpresas de última hora e trabalha com mais tranquilidade.
3. Falta de planejamento financeiro
Abrir um escritório não é só exercer a advocacia, é também administrar um negócio.
Muitos colegas se empolgam no início e gastam com aluguel caro, mobília sofisticada, marketing impulsionado sem estratégia. Meses depois, percebem que não têm fluxo de caixa para se sustentar.
Outro ponto: não calcular corretamente seus honorários. Aceitar valores baixos só para "não perder o cliente" pode inviabilizar sua carreira.
É essencial saber quanto você precisa faturar por mês para cobrir custos fixos e, a partir daí, precificar seus serviços de forma justa.
Exemplo: se o escritório gasta R$ 5.000,00/mês, o advogado precisa saber quantos contratos e de quais valores precisa fechar para se manter saudável financeiramente.
4. Aceitar qualquer caso sem análise
É tentador, no início, aceitar qualquer cliente que bate à porta. Afinal, há contas para pagar.
Mas essa escolha pode trazer dores de cabeça maiores que o benefício. Casos que não estão dentro da sua área de atuação, clientes com perfil problemático ou causas inviáveis podem comprometer seu tempo, sua energia e até sua reputação.
Exemplo: um advogado recém-formado em penal aceitar uma demanda complexa de direito tributário pode gastar horas estudando, sem entregar a melhor performance, e ainda frustrar o cliente.
É muito melhor dizer “não” para um caso fora da sua expertise do que comprometer sua credibilidade.
5. Não buscar apoio ou orientação
O advogado iniciante muitas vezes acredita que precisa “provar que dá conta sozinho”.
Essa mentalidade é perigosa. A advocacia é feita de colaboração: aprender com colegas mais experientes, participar de grupos de estudo, buscar mentoria e até dividir casos pode acelerar seu crescimento exponencialmente.
Exemplo: participar da Comissão da OAB da sua cidade pode gerar conexões, aprendizado e até parcerias profissionais.
Errar faz parte do aprendizado, mas aprender com os erros dos outros é um atalho poderoso. Advocacia não é só conhecimento técnico, é também gestão, estratégia e inteligência emocional.
Quanto antes o advogado iniciante compreender isso, maiores serão suas chances de construir uma carreira sólida e respeitada.