Como funciona o veto presidencial e o que pode acontecer com a PL da dosimetria

dezembro 19, 2025

 


Nos últimos dias, voltou ao centro do debate público a chamada PL da dosimetria, aprovada pelo Congresso Nacional e agora encaminhada ao Presidente da República para sanção. O tema ganhou ainda mais atenção depois de declarações públicas do próprio presidente afirmando que pretende vetar o projeto. Esse cenário é ideal para explicar, de forma clara, como funciona o veto presidencial e quais são seus efeitos práticos no processo legislativo.

Quando um projeto de lei é aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, ele não se torna lei automaticamente. Após essa fase, o texto é enviado ao Presidente da República, que exerce uma função essencial no processo legislativo: sancionar ou vetar o projeto. Esse momento é conhecido como fase de sanção ou veto.

A sanção é o ato pelo qual o presidente concorda com o projeto aprovado pelo Congresso. Ao sancionar, ele confirma que o texto está de acordo com a Constituição e com o interesse público, permitindo que a lei seja promulgada e passe a produzir efeitos jurídicos.

Já o veto é o instrumento constitucional que permite ao presidente discordar total ou parcialmente do projeto aprovado. O veto pode ocorrer por dois fundamentos distintos: veto jurídico ou veto político. O veto jurídico acontece quando o presidente entende que o projeto é inconstitucional. O veto político ocorre quando, embora constitucional, o presidente considera o projeto contrário ao interesse público.

No caso da PL da dosimetria, quando o presidente afirma publicamente que pretende vetar o texto, ele está sinalizando que entende haver problemas relevantes, seja do ponto de vista jurídico, seja político, que justificam a sua rejeição. Esse veto pode ser total, atingindo todo o projeto, ou parcial, recaindo apenas sobre determinados artigos, parágrafos ou dispositivos específicos.

É importante destacar que o veto presidencial não encerra o processo legislativo. Após o veto, o presidente é obrigado a comunicar formalmente o Congresso Nacional, apresentando as razões do veto. A partir disso, o projeto retorna ao Congresso, que passa a ter a palavra final.

O Congresso Nacional pode manter o veto ou derrubá-lo. Para derrubar o veto presidencial, é necessária maioria absoluta dos deputados federais e dos senadores, em votação conjunta. Se o veto for mantido, aquele trecho vetado não se transforma em lei. Se o veto for derrubado, o texto originalmente aprovado pelo Congresso é promulgado, mesmo contra a vontade do presidente.

Esse ponto é fundamental para compreender o jogo institucional. O presidente não legisla sozinho, assim como o Congresso não é absoluto. O sistema foi desenhado exatamente para criar freios e contrapesos, evitando decisões unilaterais e obrigando diálogo entre os Poderes.

No contexto da PL da dosimetria, o veto presidencial, caso se concretize, não significa, automaticamente, o fim da proposta. Significa apenas que o Congresso terá de decidir se aceita a posição do presidente ou se insiste no texto aprovado. Politicamente, isso exige articulação, convencimento e capital político. Juridicamente, é a materialização do funcionamento normal do Estado Democrático de Direito.

Por isso, mais importante do que torcer por sanção ou veto é entender o mecanismo. O veto não é um capricho pessoal, nem um ataque ao Legislativo. É uma ferramenta constitucional. Da mesma forma, a eventual derrubada do veto pelo Congresso não é afronta ao Executivo, mas exercício legítimo de sua função.

No fim, o debate em torno da PL da dosimetria revela algo maior: o Direito não se constrói apenas no texto da lei, mas no diálogo institucional. Entender como funciona o veto presidencial é compreender que democracia não é unanimidade, mas processo, muitas vezes lento, conflituoso e imperfeito, porém necessário.

Saber disso não apenas qualifica o debate público, como também impede que temas complexos sejam reduzidos a slogans políticos ou simplificações perigosas.

Se você gosta de reflexões jurídicas explicadas sem simplificação rasa e sem discurso político vazio, eu aprofundo esses temas diariamente no Instagram. Por lá, falo de Direito Penal, processo legislativo e decisões judiciais com linguagem acessível, pensamento crítico e responsabilidade jurídica.

Me acompanhe em @felipe.s.macedo para continuar esse debate.

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